“O Julgamento do Galo”
No tribunal de Barcelos,
Um galo, arguido entrou,
Acusado de roubar: grelos!
Mas nada disso confessou.
“Silêncio!” — grita o juiz,
Mas o galo não se cala:
“É mentira o que se diz”,
“Não volto para aquela jaula!”
Traz na crista um parecer,
Recursos sob suas penas.
Os grelos estão a cozer
Sobre brasas bem amenas.
“Quer que leia a acusação”
“Ou confessa já aqui?”
O galo diz não haver razão,
Em horas de “quiriquiqui”.
Já adormeceu o Juiz,
Os advogados e o escrivão.
Já ninguém ouve o que diz
Ferve grelo, no caldeirão.
“É mentira, a acusação”
“E até o posso provar:”
“Vou fazer a demonstração.”
Manda a panela buscar.
Todos para o tacho olhando
Água quente a borbulhar
Olhos que se vão chocando
É só água a esverdear.
Moral da história singular
Neste país de adiamento,
Quando um galo se julgar
Se apague o fogo com vento.